Um corpo, tantas possibilidades.
- Filipa Morais
- há 1 dia
- 3 min de leitura

Existe um espaço em aberto entre o que devo ser e o que quero ser.
Como é que se resolve esta encruzilhada?
Quantos de vós habitam este Mundo na mesma situação que eu?
Quantos de nós acreditam que existe sempre tempo para recomeçar?
Quantos recomeços são precisos para me encontrar?
Quantos encontros tenho de ter comigo própria para me entender?
Quantas vezes tenho de entender o que digo para me decidir?
Quantas vezes tenho de decidir abraçar uma parte de mim, que outra magoou, para vencer?
O que significa "vencer" se não venço, por completo, todos os dias, e celebro cada parte do meu ser?
Quantas partes do meu ser existem dentro de mim?
Será que duas versões tão diferentes de mim podem coexistir?
Eu sou algo entre o que o meu coração grita e a minha consciência dita.
Sou algo entre o mundo artístico sem regras e o mundo corporativo, tão dedicado ao que é ditado por quem pensa demais, por quem planeia demais, por quem só vê o que está diante de si próprio.
Será a vida assim tão complexa que não me permita simplesmente viver do que escrevo e do que me vai na alma?
Daquilo que transformo em canções que dizem mais de mim do que eu própria sei?
As minhas palavras conhecem-me melhor do que eu. Nascem do ponto mais profundo do meu ser, onde nem eu consigo chegar.
Este lado imprudente, rebelde, artístico e fiel ao meu anseio de ser uma mente livre, tem-se feito ouvir, a cada batida do meu coração. Ecoa cada vez mais alto dentro das paredes do meu quarto. Por mais que tape os ouvidos, não consigo deixar de o ouvir.
O que começou com uma promessa tornou-se num sonho cada vez mais palpável e menos imaginário.
Deslumbra-me o vislumbre do que pode vir a representar para mim.
(Quase) Tudo o que sempre quis, visto por debaixo de uma luz amarela, quente, que aquece o meu coração, o meu corpo, as minhas mãos e tudo o que há em mim, ao som de um ou dois violinos, um violoncelo, uma guitarra e pouco mais.
Afino em "Lá", a possibilidade infinita de ser sincera sem que tenha que reprimir o que cresce dentro de mim, sem ser julgada pelo olhar maldoso ou por simplesmente me permitir ser, o que sou.
Será isso o suficiente para fazer com que tenham orgulho em mim? Ou ficarei eternamente completa por me permitir orgulhar do que fiz e ainda está por vir?
Preciso mesmo que alguma outra pessoa se orgulhe de mim, para acreditar que sou o suficiente?
Preciso mesmo que alguma outra pessoa se orgulhe de mim, para acreditar que sou realmente boa para me fazer sobressair num Mundo cheio de artistas (ou não artistas) que conseguem chegar ao palco que eu sempre quis ter?
Não quero deixar de ser nenhuma das duas pessoas que habitam dentro do meu ser.
Poderão elas coexistir… sem que eu me perca da minha verdade?
Há um novo livro por escrever. Capítulos resolvidos por meio da validação e reconhecimento da minha própria dor e merecimento.
Será ironia pensar no que sou e não sou, sem que me dê a mim própria a oportunidade de ver onde posso chegar?
Diz-me tu:
O que é que farias, se estivesses aqui, no meu lugar?
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